segunda-feira, 1 de novembro de 2010

ENTREVISTA COM O GENIAL ESCRIBA ATAÍDE BRAZ, UM GRANDE BATALHADOR DAS HQs BRASILEIRAS!


Conheci esta fera da escrita nos anos 80 e 
sempre tive uma boa imagem a seu respeito e
dos seus parceiros, Roberto Kussumoto e Neide.
 Ele sempre foi um grande amigo, prestativo, 
sempre na dele, ao contrário de muitos maus-amigos 
que encontrei ao longo da minha carreira, que só 
visavam prejudicar os outros, que eram egoístas,
 pois jamais davam dicas para um parceiro do 
metiê, enquanto outros eram metidos a
 "estrelas", a besta, se achando os melhores 
do mundo. Meros exibicionistas e 
narcisistas ao extremo.
 E o pior, é que ainda tinham aqueles que
 adoravam "puxar o tapete" para assumir o 
cargo da gente, que trabalhava como funcionário 
de empresas editoriais...
 enfim, eram "muy amigos".
 Este cara foi e sempre será um grande amigo,
 é do bem e sempre foi leal com seus 
relacionamentos, quer tenham sido eles
 pessoais ou profissionais.

A história desse grande batalhador e excelente 
criador de argumentos de HQs acompanhei
 à distância e sempre fiquei admirado por sua
garra, tenacidade e conquistas. 
Jamais se acomodou neste mercado difícil e
 mal remunerado, mas também prazeiroso.
 Sempre correu atrás e sempre, quando pode,
 estendia a mão aos amigos.
Fez importantes parcerias com Kussumoto e 
Neide Harue, além de escrever para 
muitos dos melhores desenhistas deste país.
É com grande prazer que trago à voves 
esta figura impar e notável, pois o
entrevistado desta vez é......

O AMIGO E GRANDE 
ESCRIBA E MESTRE 
ATAÍDE BRAZ
Neide e Ataíde Braz



Tony: Há séculos não nos vemos, grande
 escriba... Está sendo um prazer poder entrevistá-lo, 
pois aposto que seus fãs e amigos, como eu, também
 estão doidos para saber um pouco mais sobre sua 
brilhante carreira e seu modo de pensar... 
Pergunta: em que cidade, dia, mês e ano, você nasceu?

Ataíde: Nasci no dia 26 de agosto de 1955 em
 Mirandiba, Pernambuco. 
Mas, passei a minha infância em Serra Talhada, 
do mesmo estado. Aos 11 anos me mudei
 para São Paulo com a família.



Tony: É incrível como Pernambuco gerou muita 
gente boa que veio para São Paulo e que 
se mostrou grandes profissionais na 
nossa área, principalmente...  
 Esta afinidade e "paixonite" por quadrinhos,
 surgiram quando?


Ataide: Logo cedo com os Quadrinhos
 da Disney e, depois, com Batman, 
Superman e outros super
 heróis. Copiando os desenhos veio a ideia de
 fazer quadrinhos, mas não levei isso muito
 a sério. Só muito depois essa idéia ganhou 
corpo, se tornou uma vontade.






Tony: Quando o vi, pela primeira vez, eu trabalhava
 na editora Noblet, como assistente de arte. 
Faz tempo... (Rsss...). Você e o Roberto Kussumoto, 
que também anda sumido, apareceram por lá 
com alguns originais de Manco Capac, correto? 
Eu e o Hamasaki achamos a ideia legal desta 
HQ, pois abordava um tema diferente. 
De onde surgiu a ideia de 
desenvolver este personagem?

Ataide: O Kussumoto mudou-se
 para o Japão e, 
pelo que eu saiba, não pretende 
voltar por enquanto. 
Quando resolvemos tentar 
entrar no mercado de 
Quadrinhos quis fazer uma
 aventura brasileira
 que não fosse copia dos enlatados. 
Pensei na Amazônia e pesquisei sobre
 a região e encontrei os “metais” para forjar
 a história. Logo no inicio da carreira já 
posicionei as minhas “antenas” para captar
 tendências futuras. 
Infelizmente me antecipei demais, a
 Amazônia só era foco por causa 
da transamazônica, 
a floresta em si ainda não era vista 
com a importância que tem hoje.

Kussumoto, em pé, de óculos na sede da ABRADEMI
Tony : O mestre Kussumoto, foi para o Japão? 
Cara esperto o Robertinho, hein? ! Legal...
 Deve  ter se arrumado por lá... taí um país que
 dá valor aos seus artistas e até para os
 estrangeiros... Voltando a falar sobre Manco
 Capac, ele acabou sendo publicado numa das 
revistas da Noblet, foi isso? 
Lembra do título da revista em que ele saiu?
 Este título me foge a memória, sabe como 
é, sou meio jurássico e a amnésia, as 
vezes, corre a solta... (Rsss...). 
Esta foi a primeira HQ publicada por vocês?

Ataide: Não. Foi a nossa primeira história, mas 
se mostrou inviável. Éramos iniciantes, com uma 
história de 32 páginas, com um tema diferente 
para a época. Então o Kussumoto sugeriu
 abandonar o projeto do Manco Capac e fazer
 HQs curtas com um tema “palatável” 
para o mercado. Escrevi “Caçada Mortal” 
(desenhos do Kussumoto) com a intenção 
de visitar a RGE, que na época publicava a Kripta. 
Neste meio tempo a Noblet lançou a Vampirella
e fomos apresentar o nosso trabalho para vocês.







          E, como você sabe, não conseguimos publicar 
nada na Noblet nesta ocasião. Mas ganhamos 
amigos. Mirando a Vecchi escrevi “O Bode”, 
desenhada pelo Kussumoto e “Lucia”, 
desenhada pelo Seabra com 
arte final do Kussumoto. 
Na nossa segunda visita ao 
Rio fizemos contato 
com a Vecchi e conseguimos publicar a 
nossa primeira HQ: “O Bode” publicada 
na Specktro 4. E conhecemos o Mestre Shima. 
 Depois veio “Lucia”, “A trágica Sina de Lindaura”,
 “A Noite da Vingança e Semente do Mal”
 e “Drácula 3000 D.A” finalizou a 
nossa colaboração com a Vecchi, pois 
já direcionávamos nossa
 produção para a Grafipar.




Tony: Cripta, adorava esta 
revista, fazia coleção... 
foi uma das melhores do gênero... poucos 
sabem, mas, de fato, a Noblet foi a primeira 
a lançar Vampirella e Mister No, no Brasil. 
Naquela época (anos 80) recebíamos o 
material da Warren para vertermos 
para o português e sempre recebíamos
 posters e calendários maravilhosos de
 brindes feitos por Steban Maroto, Jose 
Ortiz, Gimenez e outras 
feras do traço ibero.






Capa nacional feita pelo genial
Walmir Amaral
Pena que não guardei nada disso. 
Outra curiosidade sobre Vampirella... 
e esta vai para os malucos que só acham
 que os americanos são bambas... as primeiras
 5 edições da deliciosa Vampi eram feitas
por americanos e eram uma merda... 
quando os espanhóis 
entraram a coisa mudou, 
para melhor, virou alto nível. 
Na época os caras fizeram escolas
 e revolucionaram o mercado... mas, 
voltando ao papo... antes de Manco 
Capac, você já havia tido 
outras experiências editoriais?

Ataide: Não. Foi a nossa 
primeira experiência. 
Por isso não me conformava 
em vê-la na gaveta.
 Conversando com o Hamasaki, você e 
o Fausto (Kataoka, que de "fotoliteiro"
 virou grande produtor da ed. Escala,
 anos depois), e conseguimos convencer 
o Sr. Joseph a publicar a história 
na revista Mister No, (do 1 ao 8) para
 complementar a revista.
O preço pago era muito pouco e só valia 
a pena por que a história estava pronta
 e queríamos vê-la publicada.
 E para isso aceitamos o compromisso 
de continuar. Mas o trabalho foi tão ruim 
que o Kussumoto nem quis assinar.


Tony : Eu sabia que Manco Capac tinha 
saído pela Noblet... então foi na revista 
Mister No... guardei durante anos esses 
exemplares, que acabaram sumindo..
 Pergunta: vc e o Kussumoto, durante 
anos, foram parceiros. 
Onde e como você conheceu ele?









Ataide: No curso de desenho do Senac. 
Reconhecemos as nossas fragilidades. 
Ele não desenvolvia bem roteiros e eu 
desenhava mal. Mas, juntando os nossos
 pontos fortes, o trabalho ficava maduro 
e pronto para entrar no mercado.


Capa de Roberto Kussumoto para
a extinta editora Grafipar
Tony: Adorei ouvir isto "reconhecemos nossas 
fragilidades"... e assim provaram que a união, 
de fato, faz  a diferença, a força... se não me 
engano, eu e o Hamasaki te indicamos a Vecchi, que 
naquela época estava bombando com Tex, Mad, e as 
revistas nacionais criadas pelo nosso amigo Otta: Spectro, 
Sobrenatural e Chet, dos bengalas-brothers, Watson 
e Wilde Portella. Vocês fizeram muitas HQs de terror
 para a Vecchi, na época? 
Tem idéia de quantas foram?

Ataide: Na época havia apenas a Specktro. 
As outras vieram depois com o sucesso da
 Specktro, que aconteceu depois que ela 
optou pelos artistas brasileiros, deixando de 
lado os enlatados. 
A coisa foi assim... você e o Hamasaki nos 
sugeriram visitar a Abril e mostrar o nosso
 trabalha para o Primaggio. 
Lá conhecemos também o Rui Perotti (autor de
 Satanésio). Ambos nos incentivaram muito
 e o Primaggio nos deu uma carta de apresentação 
para o editor da RGE, fato que abriu a porta
 da editora para apresentarmos o nosso trabalho. 
Não deu em nada, mas foi importante. 
As HQs apresentadas tinham temas polêmicos. 
Caçada Mortal tratava da eutanásia e Lucia
 trazia à tona a aspiração de liberdade de
 pensamento e sexualidade da mulher, numa
 época em que a mini saia era mal vista. 
Com a recusa tiramos a Kripta da cabeça e 
voltamos nossos olhos para a Specktro.


Ruy Perotty, desenhista, animador , 
empresário,criador do Sujismundo e Satanésio.






Tony:  De fato, os temas abordados em seus roteiros,
 na época, eram inovadores, polêmicos... 
eram vanguardistas, eu acho (Rsss...). 
Quando a Vecchi faliu, 
muita gente boa sumiu do mercado, inclusive voces... 
Por sorte eu tinha emprego fixo na Noblet - onde
 trabalhei por 5 anos e só saí de lá para abrir o 
meu primeiro estúdio -, e nunca sofri esses altos e baixo
s malucos do setor editorial, da época. 
Quando tudo parecia trevas, de repente surgiu 
uma luz no fim do túnel, quando a Grafipar 
primeiramente lançou a revista Peteca, destinada
 ao público masculino.


Revistas da Grafipar





Na sequência, esta editora de Curitiba, que tinha à sua
 frente o nosso amigo e genial Claúdio Seto
 começou a lançar revistas de HQs eróticas, 
com um tremendo sucesso. Pouco depois, lá estava
 a famosa e incansável dupla Ataíde e Kussumoto
 publicando pela Grafipar. Como conheceu o 
Seto, e quais foram seus primeiros
 trabalhos para a Grafipar?


Livro que contém artes de Cláudio Seto
e Roberto Kussumoto
Ataide: As nossas antenas estavam ligadas nas 
tendências futuras. Avaliei que o terror 
estava esgotado. O Silvestre Mendonça 
nos alertou que o futuro gênero para o
 quadrinista brasileiro era o erótico.
 Concordamos com a ideia, 
pois a censura brecava a entrada dos 
importados deste tipo de material. 
Em Curitiba o Rogério dias, o Rettamozo 
e o Cláudio Seto também pensavam o mesmo.




            Quando a revista Quadrinhos Eróticos 
foi publicada, já tínhamos material pronto. 
Fui a Curitiba, levando material nosso e
 também de outros quadrinistas de São Paulo.
 Depois o Seto veio a São Paulo, conheceu o
 pessoal e deu no que deu. Quando a 
Vecchi faliu eu já estava morando em 
Curitiba e trabalhando exclusivamente
 para a Grafipar. A primeira HQ nossa
 publicada pela Grafipar foi
 “Uma ilha, um naufrago”.







Tony : Quadrinhos eróticos bombou legal nesta 
época e gerou muito trabalho pros artistas
 tupiniquins... foi legal. Hoje não vejo nada de HQs 
eróticas nas bancas. em, mas com o crescimento 
dos títulos de HQs eróticas da Grafipar surgiram 
também outros títulos, de outros gêneros, feitos
 exclusivamente por brasileiros. 
Uma gama de novos gibis invadiram as bancas
 com temáticas diversas, como: ficção-científica, 
terror, humor, etc. De repente, uma centena de 
desenhistas passaram a trabalhar com aquela 
saudosa casa editorial. 
Você, pelo visto, deve ter escrito HQs para muita 
gente nesta época, pois seu texto sempre foi
 de alta qualidade. Pergunto: 
Você fez parcerias com quais desenhistas, 
além do Kussumoto e Neide?







Ataide: Nunca fui roteirista de alta produção.
 Meu parceiro foi sempre o Kussumoto e a Neide. 
Não escrevi muitos roteiros para a Grafipar.
 Na época tive roteiros desenhados pelo 
Franco de Rosa, Itamar Gonçalves, Rodval 
Matias, Seabra, Hamasaki e o Sergio Lima. 
Após a Grafipar trabalhei também 
com o João Pacheco e o Alvaro Rio.

Tony: A Grafipar expandia maravilhosamente. 
Shima, Colin, eu, vcs, Mozart Couto, Hamasaki, 
Zenivaldo, Watson, Wilde, Mozart, e um 
mundaréu de gente criativa começamos a 
trabalhar pra eles. Eu era empregado, mas
 fazia frila pra Blloch, Grafipar e até agências 
de publicidade, à noite, em casa, para 
aumentar a renda e segurar as despesas 
da família que aumentava a cada dia.
 Lembro-me que o Shima e o Colin tinham 
uma cota de produção de 100 págs p\mês, 
uma doidera. Naquela época remota era 
comum ter reuniões no majestoso bairro 
da Santa Felicidade, lá em Curitiba -
 um paraíso gastronômico local -, com desenhistas 
oriundos dos quatro cantos do Brasil. 
O clima era festivo e ver aquilo me preocupou. 
Disse a um amigo, preocupado:
 "Até quando você acha que essas
 farras vão continuar? Não tem empresa que 
aguenta essas continuas reuniões, onde tudo
 era pago pela editora...". Mas, ele me disse:
 "Que nada a Grafipar nunca vai quebrar,
 os homens são muito ricos,  são um dos
 maiores plantadores de café da região". 
Um dia, fiquei sabendo aqui em S. Paulo,
 que a editora estava convidando os artistas
 para irem morar por lá. 
Eu não podia fazer isto, tinha emprego, 
família aqui, etc. Também achava doidera
 sair do eixo Rio\SP e continuar a tentar 
trabalhar nesta profissão. 
Se por aqui as coisas eram dificeis dava para
 imaginar fora do eixo... mas, muita gente
 boa embarcou nesta. 
A proposta era quase que inrecusável... 
a empresa alugava até casa pra galera 
ir de mala e cuia para lá. Tem nego que 
levou mulher, filhos, sogra, cachorro, 
papagaio, etc... pergunta: 
você também foi morar por lá?





Ataide: Como já disse, fui o primeiro a me 
mudar para Curitiba. Trabalhando com 
carteira assinada  como assistente do Seto
 e responsável por ler os roteiros e 
enviá-los para os desenhistas.

Tony: Eu não sabia... você deu sorte e descolou
 um bom emprego... que legal. Quando a 
editora curitibana sucumbiu, repentinamente, 
muitos artístas que foram morar lá no sul, 
se viram em maus lençóis.
Segundo o que ouvi falar, muitos não tinham 
nem como voltar com suas famílias
 para suas regiões. 
Você presenciou este drama?

Ataide: Não, não vi este drama de perto. 
Fui o primeiro a fazer o caminho de volta 
para São Paulo. Mas, realmente, foi difícil. 
 Eles estavam com o pagamento atrasado e, 
como não tinham vínculo empregatício 
não podia nem recorrer à justiça.




Tony: Que merda, hein? Até hoje, muita polêmica rola 
sobre o inesperado fim da Grafipar. Afinal, a empresa 
estava bombando com inúmeros títulos na praça e dando
 emprego pra muita gente. Alguns dizem que o
 Faruk-El-Katib - um dos donos da empresa - 
comprou um jornal esquerdista local e começou a 
meter o pau no governo e que, com por isso, sofreu 
as consequências... você sabe alguma coisa  a este respeito?

Ataide: É complicado explicar em poucas
 palavras o meu ponto de vista sobre a 
ascensão e queda da Grafipar. 
Mas, o que foi visto como estar “bombando”, 
na verdade era o sintoma da agonia da editora. 
Lançava muitos títulos, sem planejamento,
 apenas para receber o adiantamento da 
distribuidora e poder pagar credores.
 As maiorias das revistas não passavam
 do primeiro número.

Tony: Tens razão, mestre... naquela época os
 distribuidores eram "bonzinhos", davam 
carta de garantia  pras editoras e permitiam
 que os editores emitissem duplicatas 
contra eles no ato de entrega da mercadoria...
 daí, quanto mais mercadoria, mais grana rolava. 
Muitos editores só giravam  trocando os "papagaios" 
nos bancos... mas isto é o que chamamos 
de "faca de dois legumes" (Rssss...). 
Se o produto não atingisse vendas equitativas
 com o valor dos títulos sacados contra o
 distribuidor o editor ficava individado -
 com a distribuidora - e tinha que criar mais
 produtos para cobrir o rombo... enfim, vi 
muito editor entrar nesta 
roda-viva até ir pro saco. Seguindo...
ETF - Comunicação editorial. 1983. Nesta época 
você e a Neide fizeram história, pois, fora os
 Maldonados, voces eram um dos raros
 casais que trabalhavam na área, também. 
Pra minha editora (ETF), voces fizeram 
alguns livrinhos infantis com histórinhas, 
lembra-se? Mas, você e ela também fizeram
 muitas HQs por aí, como a adaptação de
 Drácula, para a Nova Sampa Diretriz -
 um excelente trabalho-, etc. Como e 
quando você conheceu a Neide e gostaríamos
 de saber quanto tempo durou esta parceria bacana?


Arte: Neide Harue



Ataide: Minha parceria com a Neide é parceria 
de vida. É o amor da minha vida, a mãe da 
minha filha e a desenhista do personagem
 que marcou a minha carreira. 
Ainda é minha parceira em todos os sentidos.

Tony: Parabéns, eu não sabia que estavam 
casados... que bela surpresa... Imprima... 
se não me engano, fui eu que indiquei esta 
so Bovero, no alto do Sumaré... só sei que,
naquela época - década de 80-, voces conseguiram 
mudar a cabeça dos editores - que até hoje 
fazem a milenar Violão e Guitarra e outras 
publicações do gênero. 
Achei fantástico, pois voces conseguiram 
vender pra eles uma HQ. Qual era o nome 
desta série, qtos números foram publicados 
e como conseguiram convencê-los 
a publicar quadrinhos?

Ataide: É verdade. Você nos apresentou a ele,
que desejava ilustrar uma história infantil 
com uma série de quadros pintados a óleo. 
Mas, em conversas informais o Reginaldo
 revelou o desejo de fazer outros tipos de
 publicação. Então surgiu a idéia de fazer 
um personagem. Criei então a Scorpian.
 Foi escrito, e desenhado, dois roteiros. 
A Imprima publicou um. A venda não foi
 boa e a revista morreu
 no primeiro número. 
A segunda história foi arte f
inalizada pela Luri Maeda.

Tony : O gozado é que eu já trabalhava 
para eles - Imprima - fazendo revistas 
de atividades infantis e nunca consegui 
convencê-los a fazer HQs. Voces conseguiram
 um grande feito, um milagre. (Rsss...). 
O Reginaldo e o Vitor- meus amigos 
e jurássicos publishers -, até hoje, lembram
 e gostam muito de você. 
Nunca mais falou ou 
trabalhou com eles?



Drácula - o Clássico de Bram Stoker virou um clássico das HQs
pelas mãos de Ataíde e Neide Harue - Ed. Nova Sampa (anos 80)




Drácula - Por: Neide e Ataide
Ataide: Voltei a ter contato com a Imprima em 2005
 (se não me falha a memória) e fiz outro trabalho, 
desta vez infantil: “Os Monstros do Lixão”.
 Mas, que eu saiba, permanece inédito. 
Acredito que o desejo de diversificar as publicações 
permanece na mente do Reginaldo. 
Se alguém apresentar um bom projeto, creio 
que ele vai ficar muito tentado
 a fazer nova experiência.

Tony : Com este mercado em baixa? Duvido... já fiz
 muitas reuniões com eles e como a grande
 maioria dos editores que há anos optaram
 em trabalhar com segmentações 
também estão se lamentando... mas, 
ao menos, souberam faturar, guardar
 e criar um patrimônio, ao contrário de 
muita gente que ganhou - nos tempos 
de vaca gorda - e estourou tudo.
 Cite 5 bons filmes?

Ataide: São muitos, fica difícil escolher 5.  
Posso citar dois Brasileiros: “Se eu fosse você”; 
“Tropa de Elite”, são filmes que indicam c
aminhos a serem trilhados. 
Que fogem da mania de fazer “filmes cabeça”.

Tony: Quer dizer que não vai nos dar o 
prazer de conhecer seu bom gosto pelas
produções hollywoodiana? 
Bons diretores de cinema?

Ataide: São muitos também.

Tony: Hmmm... Bons livros?

Ataide: A mesma coisa.
Tony : Sacanagem, a sua... (Rsss...) vamos
 morrer sem saber quem são seus favoritos... (Rssss...).  
Seus heróis favoritos? E não me venha 
com esta história de que "são muitos"... (Rsss...).

Ataide: Gosto de muitos. X- Men, Surfista 
Prateado, Monstro do Pântano, etc. 
E, da turma da Mônica, dependendo
 é claro, do roteiro.



A primeira edição do Surfista, no Brasil, foi
lançada pela GEP (Gráfica e Editora Penteado),
em forma de almanaque,
formato magazine, em preto e branco,
e foi um fracasso de venda


A Turma da Mônica - É o maior
fenômeno de venda. Criação
do mestre Mauricio de Sousa
Tony: Melhorou... ao menos citou alguns... 
(Rsss...) Um sonho?

Ataide: Escrever um livro.

Tony: Uma frustração?

Ataide: Não ter roteiros meus desenhados 
pelo Shima, Zalla, Paulo Fukue, Ignácio 
Justo, Arthur Garcia e o Mozart Couto.

Tony: Acho que todo escriba um dia sonhou 
em ter seu texto ilustrado por esses feras, 
inclusive eu... anos depois, fiquei sabendo
 que você havia mudado para o interior. 
Atualmente, você e a Neide moram aonde?
E você, faz o quê?

Ataide: Atualmente moramos em Presidente 
Prudente e trabalho em uma cidade próxima, 
Pirapozinho, como Agente de Combate as Endemias.

Tony: Tá certíssimo, quem tem familia tem que
 ter os pés no chão... parabéns... Wilde Portella?

Ataide: Conheço o Wilde de longa data, é um 
autor de talento e torço muito para o seu 
personagem se firmar novamente e 
seguir mundo a fora como o Tex.

Tony: Gedeone Malagola, o meu amigo, que era 
delegado aposentado e que também 
 era apaixonado por HQs?

Ataide: Não tive oportunidade de conhecer 
pessoalmente o mestre Gedeone. 
Mas, acho que o seu melhor trabalho é o Lobisomen,
 desenhado pelo Zalla e o Nico Rosso. 
E falando nele, creio que deveria haver uma
 republicação do Lobisomen desenhado pelo 
Nico Rosso. A nova geração não 
conhece o trabalho deste artista.

Tony: Fiz isto... republiquei a série do Lobisomem
 pela editora Ninja, na década de 90... e se
 não me engano o Carlos Mann e o Franco
 também lançaram um álbum especial em
 95 ou 96. Aquilo é o que podemos chamar 
de um belo trabalho nacional. 
Tinha um grande argumentista e um fantástico 
mestre da luz e sombra. Mangás?


Arte do mestre Fernando Ikoma
Ataide: O mangá tem uma grande influência 
no meu estilo, através das HQs do Fernando
 Ikoma. A narrativa japonesa é mais voltada 
para a emoção. A narrativa americana 
é mais seca, concisa. É mais verbal.


Fikom - Um clássico de Ikoma
Tony: Gostei da análise... nunca tinha 
ouvido isto antes... Super-heróis?
 Ataide: Gosto, mas não me atrai como autor.


Tony: Planos para o futuro?
 Ataide: Viver. Talvez escrever um livro.
 Tony: Os melhores escribas 
nacionais, na sua opinião?

Ataide: Agora  você me pegou. 
Estou há muito tempo afastado do mercado 
de quadrinhos, não conheço o trabalho dos novos. 
Citaria o Leo Santana, Gian Danton, 
Alexandre Lobão, o Franco de Rosa, 
Antônio Luiz Aguiar, Emilio Braz, Emir 
Ribeiro, Alexandre Nagado, 
Rodrigo (perdoe, esqueci o sobrenome).

Tony: Sem problema, grande escriba 
e amigo... Ataide Braz por Ataide Braz?

Ataide: .... (?)


Tony: Não consegue se autodefinir 
sobre si mesmo, bengala friend? 
Curiosa suas retiscências... (Rsss...). 
Valeu, my old bengala brother, por esta 
esclarecedora entrevista! Muita saúde, 
paz e sucesso! Precisamos, sempre, de 
gente como você no mercado editorial
 brasileiro, mestre escriba! 
E manda um grande beijo, 
pra comadre (Neide).

 
Ataide e Roberto Câmara

Copyright 2010\Tony Fernandes\
Estúdios Pégasus - Uma Divisão de
Arte e Criação da Pégasus Publicações Ltda
Todos os Direitos Reservados

9 comentários:

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  2. Tony, sensacional a entrevista.

    Li o Ataide nos tempos da Vecchi e, principalmte, da Grafipar.

    Me lembrei da palestra do Civitelli na Fest Comix, quando ele disse que faz 12/15 páginas de Tex por mês, e que para a edição do Tex Gigante que está fazendo, levará provavelmente tres anos para terminá-la.

    Na ...sua entrevista com o Ataíde, acerta altura, você diz: "Lembro-me que o Shima e o Colin tinham uma cota de produção de 100 págs p\mês, uma doideira.".

    Caraio!!!!

    Essa produção massiva é que possivelmente acaba com nossas publicações nacionais, quando o leitor compra com uma outra estrangeira, quando um cara faz o roteiro, outro o lápis, um terceiro faz o pincel, outro coloca a cor, outro ainda as letras, e um último fica o tempo todo enchendo o saca deles para que os prazos não furem. O leitor diz (e eu, enquanto leitor já disse também): "porra, esse cara faz um desenho muito ruim, não tem cenários decentes, só tem rabiscos jogados, parece que foi feito nas coxas... Nem compara com os desenhistas da Marvel ou DC."

    Que falta não faz um trabalho em equipe para que cada um faça uma parte e possa haver qualidade.

    O Civitelli faz lápis e pincel, mas tem tres anos para acabar uma história de um Tex Gigante, e ganhando uma boa "baba" por mês, ou já não estaria mais desenhando para a Bonelli.
    Abraços

    Alvarez

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  3. Tony,

    Outra coisa que me chamou a atenção foi a explicação para o "estava bombando" da Grafipar. Bateu exatamente com uma troca de mensagens com o Ota numa destas listas sobre quadrinhos na Internet, quando ele falou sobre a Roval ou Gorrion (não lembro exatamente qual das duas), em que os caras só se interessavam por lançar as revistas para poder pegar a grana da distribuidora. Das inúmeras revistas que lançaram a maioria não emplacava o número 02, e eles já lançavam uma nova de olho na grada do adiantamento.

    Parabéns, mais uma entrevista para ficar nos anais da História das HQ Brasileiras.

    Abraços

    Alvarez

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  4. Bem observado, Alvarez... as verdades estão vindo à tona. Muitas vezes o leitor acha q a editora "tá bombando", mas aquilo é desepêro... na real tão tapando buracos financeiros q ocorreram em virtude da ansia em pegar os adiantamentos da distribuidora... mas, como eu disse, isto era uma faca de "dois legumes"... muita gente sentou na mandioca ao entrar nesta roda-viva...
    Atualmente, isto não existe mais.
    Ao contrário, se seu produto não atingir um "X" de venda, q corresponde as despesas de mão-de-obra da distribuidora, hoje, o editor é obrigado a pagar a diferença. Acabou a farra.

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  5. Sobre sua outra observação, meu amigo... "100 págs por mês".
    Qualquer um, q ganha bem, q trabalhe me paz - sem ninguém te cobrando -, e q tenha um mês p\fazer 15 págs tem a obrigação de fazer um belo trabalho. Mas, no Brasil, recebemos mal e ainda por cima somos obrigados a fazer uma qtidade absurda de págs mensais. Pra vc ter idéia... atualmente, desenho e escrevo sózinho 2 ed. de Apache p\mês. Isto dá mais de 100 págs. Tenho uma equipe de apoio para: cor, escaneamento, letreiramento, continuidade, etc. Pois, é humanamente impossível atender outros clientes e ainda fazer 2 Apaches por mês. Os leitores não sabem dessas doideiras e criticam nós, os autores tupinquins.
    Mas, se vc quer saber, somos heróis e até melhores do q muitos gringos, pois produzimos com poucos recursos financeiros, por amor a arte e num rítmo alucinante. Uma vez o Shima me disse: "Tony, um cara mostra q é bom qdo faz na pauleira. Vc percebe q o trabalho foi corrido, mas sente garra, conhecimento, o q não temos é tempo e dinheiro".
    Concordo com ele, plenamente.
    Olha o grande amigo Joe Bennet... tem uma boa equipe de apoio, deve receber muito bem p\página e deve ter um tempo legal p\trabalhar. Se tivéssmos isto no Brasil, seríamos uns dos melhores do mundo.
    Pergunto: cadê editor pra investir assim? Pelo q afirmou o Civitelli dá pra deduziir q varias edições de Tex são produzidas simultaneamente por diversos artístas, q para manter a qualidade, levam até 3 meses ou mais p\fazer um gibi.
    Li num Tex Gigante - que tenho - (feita pelo Joe Kubert), q ele diz q levou 3 anos p\fazer 300 págs. E olha q não tá nenhum show de arte, não. Prefiro o Kubert de Sargento Rock.
    O Bernett, que eu adoro, tb fez um Tex Gigante, super corrido, na pauleira, pior do q os trabalhos dos desenhistas italianos... (rss..).
    Mas, daí pergunto: É fácil desenhar 300 págs de HQs? Até grandes mestres como eles perdem em qualidade numa produção maluca dessas. É fácil criticar, mas fazer... se vc não gostar da coisa,
    não faz. Digo sempre aos desenhistas iniciantes: "Gostar de ler gibis é uma coisa, fazer dá um puta trabalhão...". Daí vem uns carinhas q levam um mês pra fazer 10 págs falar merda dos profissionais brasileiros... quero ver esses pseudos-críticos trabalharem como nós, nesse rítmo maluco! Fazer o quê, né?
    Mano-amplexo!

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  6. Ótima entrevista com o Ataíde. Acho ele um cara talentoso e costumava ler suas histórias. Mais uma vez Tony deu um tiro certeiro.

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  7. Tenho a honra de ser amigo de Ataide Braz e Neide, até por coincidencia fomos vizinhos de bairro um bom tempo, e temos que conseguir que ele volte a escrever de qualquer maneira pq é um dos melhores roteiristas que o Brasil tem e isso é fato.
    Forte abraço Tony e Ataide.
    Belissima entrevista.

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  8. Infelizmente, existe uma cultura da "rapidinha" nos quadrinhos. Os desenhista não tem folego e paciencia para desenhar uma história longo. Assim, a maioria das HQB são curtas, 10 ou 15 paginas. E na sua maioria é apenas um "desbunde" visual. Talvez o Tex faça sucesso até hoje por que o leitor não conseguer ler a sua revista em 5 minutos. Mas, o bom do futuro é que vem um dia de cada vez, as redes sociais propiciam o debate e creio que as proximas gerações podem mudar esse estado de coisas, se conseguirem vencer a preguiça e usar o computador como uma ferramente e não como mestre.

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  9. Excelente entrevista, é bom vermos os bastidores, as deficiências nacionais e claro, a garra com que vocês (herois do nanquim tupiniquim) conseguem driblar essa nossa falta de 'recursos' ou excesso de 'controle' de alguns "donos do mundo - em seus pequenos latifúndios regionais" sobre os que trabalham/produzem arte como foi muito bem dito!!
    Abraços e sorte no Oeste Paulista (Boas histórias estão aee para vc. nos contar ainda, não?! - vivi 6 anos em Assis, do ladinho de Prudente!!).
    Parabéns, pela excelente entrevista!

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